*Por: Denis Mack, filósofo, jornalista e empresário
Foto: Denis Mack/ Divulgação
Não é de hoje que a sociedade abandonou os idosos. Esse é um fato que quase ninguém quer discutir atualmente, embora seja um tema absolutamente necessário, principalmente frente ao cenário imposto pela proliferação avassaladora do novo coronavírus, que atinge de forma mais agressiva justamente a faixa dos mais velhos.
Nos tempos modernos, a valorização da juventude é notória, em detrimento da experiência naturalmente acumulada com o passar dos anos. Apesar de o vigor e os cuidados com a beleza serem atributos também almejados pelos idosos, nossa sociedade imediatista criou a noção, por meio de um marketing agressivo, de que a beleza é uma exclusividade da juventude. Por consequência, aceitamos naturalmente a venda de produtos de “rejuvenescimento” e, pasmem, todos acham natural que até mesmo um termo como creme anti-idade esteja estampado em rótulos de forma chamativa.
Sociedades mais antigas, em tempos idos, valorizavam bastante a maturidade, de forma muito peculiar. O comum era ser liderado pelos mais velhos, respeitando o conhecimento acumulado ao longo dos anos, seja por experiência empírica ou pela simples observação dos fatos cotidianos que envolviam as comunidades e histórias locais. No nosso país, ainda no século passado, era comum pedir a benção aos avós, dar lugar aos idosos e respeitar sua identidade, coisa que tem ficado bem mais rara em nossos dias.
No campo da economia e dos recursos humanos, a situação é ainda pior. Em todos os aspectos que abrangem as relações humanas, o idoso passou a ser desconsiderado apenas pelo fato de ter acumulado idade. Isso se agrava ainda mais com o aumento da expectativa de vida. Os mais velhos passaram a ser “descartados” ainda no início da sua senioridade, sendo comum empresas optarem na maioria das vezes pela contratação de pessoas mais jovens, ignorando a experiência acumulada pelos idosos. A falta de interesse em oferecer cursos de atualização tecnológica acaba afastando de vez as oportunidades para este segmento.
Portanto, ver as pessoas circulando livremente e sem máscaras durante a pandemia, ver os parques cheios, praias abarrotadas, ver os nossos líderes dando pouca, ou quase nenhuma importância, para os efeitos nocivos da Covid-19, não é um fato novo, e sim um reflexo, puro e simples, do abandono moral que os idosos do nosso país vêm sofrendo ao longo de décadas. Aos mais jovens, eu desejo: vida longa e boa sorte! Afinal, nunca é tarde para mudarmos este cenário.
Sobre o autor: Denis Mack é filósofo, jornalista e empresário, formado em Teologia (Escola Superior de Teologia de São Leopoldo – RS), Pós-graduado em Filosofia (Centro Universitário Claretiano) e Relações Públicas (UNIARA), além de especializado em Política pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Atua há mais de 20 anos, no Brasil e no exterior, administrando soluções nas áreas de Turismo, Comércio, Saúde e Tecnologia da Informação, desenvolvendo a comunicação social de organizações nacionais e internacionais de grande porte. Colabora como voluntário em associações, nas áreas de amparo à mulher e pessoas em situação de vulnerabilidade social, além de projetos para inclusão e valorização dos idosos, combate à fome e proteção ao meio-ambiente no município de Peruíbe (SP).