Prevenção e tratamento do câncer de próstata precisam ser mantidos na pandemia

Em meio a uma nova onda de casos de Covid-19, o Dr. Gustavo Cardoso Guimarães, urologista consultor do Minuto Saudável e diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR), fala sobre a persistência do tabu em torno dos exames e a necessidade de prevenção

Dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer) apontam para 65 mil novos casos de câncer de próstata no Brasil neste ano, com um homem morrendo a cada 38 minutos devido à doença no Brasil. 

Segundo o levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), na base TABNET/DataSUS, do Ministério da Saúde, o número de cirurgias para retirada da próstata por câncer no primeiro ano de pandemia (2020) caiu de cerca de 80 mil para 59 mil procedimentos, uma redução de 25%. Ao comparar 2021 com 2019, a redução é de 17%. Paralelamente, o diagnóstico da doença também foi impactado pela pandemia, sendo que o exame de PSA e as biópsias de próstata caíram, respectivamente, 28% e 21% em 2020 em comparação ao ano anterior.

Em meio a uma nova onda de transmissões e casos de novas variantes da Covid-19, altamente transmissíveis, mas menos letais, segundo especialistas, as campanhas de conscientização conhecidas como “Novembro Azul”, estão sendo promovidas neste mês pelas mais variadas organizações, reforçando a importância do combate ao câncer de próstata através dos exames preventivos, para um diagnóstico precoce da doença, com maiores chances de cura.

Segundo o Dr. Gustavo Cardoso Guimarães, urologista consultor do Minuto Saudável e diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR), a procura dos pacientes para realizar os exames para o diagnóstico precoce da doença segue em baixa no país. “O aumento de novos casos de Covid-19 pode desanimar as pessoas a irem a médicos e hospitais, por medo de transmissão. Ainda por cima, persiste o tabu ao redor do tema. Em geral, é a mulher (mãe, irmã, esposa ou filha) quem encaminha os homens ao médico. O impacto já gerado pela pandemia desde 2020, com a diminuição dos diagnósticos precoces, infelizmente resulta em casos mais adiantados da doença chegando só agora aos consultórios”, aponta o médico. 

A realidade é que a doença não espera, e que o câncer de próstata é o tipo mais comum de câncer entre os homens, causando a morte de 28,6% da população masculina que desenvolve neoplasias malignas, segundo o Inca.

Para obter chances consideráveis de sucesso no tratamento, o Dr. Gustavo alerta que os exames anuais de rastreamento devem ser feitos a partir dos 50 anos, caso não haja nenhum caso de câncer de próstata na família. Se houver casos, o acompanhamento deve acontecer a partir dos 45 anos.

Causas e sintomas

O principal fator de risco para o surgimento da doença é o envelhecimento, mas o Dr. Gustavo explica que, apesar das causas ambientais não serem bem estabelecidas, “uma dieta rica em gordura, particularmente de origem animal e com alto teor de cálcio, pode aumentar o risco”.

“Cerca de 5% a 10% dos casos podem estar associados ao histórico familiar, quando parentes próximos, especialmente pai, irmão, avós, tios ou filhos têm ou tiveram câncer de próstata. Outro potencial fator de risco é a inflamação na próstata. As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) também estão sendo investigadas como possíveis causas”, explica o especialista.

Trata-se de uma doença silenciosa, que não apresenta sintomas no estágio inicial. Segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), quando alguns sinais começam a aparecer, cerca de 95% dos tumores já estão em fase avançada, dificultando a cura. Na fase avançada, os sintomas são dor óssea, vontade de urinar com frequência, dores ao urinar, presença de sangue na urina e/ou no sêmen.

Exames disponíveis 

O toque retal, o exame de PSA e a biópsia são exames utilizados para identificar o câncer de próstata. Simples, rápido e indolor, o toque retal permite avaliar o tamanho, forma e textura e se existe alguma anormalidade na próstata, como um nódulo, por exemplo.

Já o exame de PSA, conhecido por Antígeno Prostático Específico, identifica se houve o aumento da concentração desta enzima produzida pelas células da próstata e as chances de o paciente ter o câncer de próstata ou outras doenças relacionadas. O PSA pode ser encontrado principalmente no sêmen, mas uma pequena quantidade também está no sangue. 

“O PSA também pode ser utilizado para identificar a metástase (disseminação do câncer além da próstata) e avaliar a eficácia do tratamento. Se o médico suspeitar de câncer de próstata após a realização dos exames, uma biópsia deve ser realizada. Esta é a única maneira de confirmar com precisão o câncer”, afirma o Dr. Gustavo.

Prevenção da doença

Manter um estilo de vida com uma alimentação equilibrada, praticar exercícios físicos e controlar o peso podem contribuir para diminuir os riscos da doença, que está associada a uma dieta rica em gordura animal e ao sedentarismo.

A importância da vigilância ativa

Como o câncer de próstata geralmente cresce lentamente, o Dr. Gustavo espera que estudos de longo prazo de vigilância ativa possam ser aplicados em homens com uma idade mais avançada e/ou outros problemas de saúde, que tenham tumores de baixo grau.

“Essa abordagem envolve o acompanhamento rigoroso do câncer de próstata, sem tratamento ativo, com exames repetidos em intervalos definidos. Esses estudos mostram que quando os pacientes são bem selecionados, até 70% conseguem manter essa abordagem por até 10 anos, sem necessitar de tratamento”, explica o especialista.

Apesar do tratamento do câncer variar de acordo com a idade, tipo do câncer, estágio, estadiamento, estado clínico e emocional e efeitos colaterais do paciente, as principais modalidades de tratamento disponíveis hoje são radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia, protonterapia, crioterapia e ultrassom focalizado de alta frequência.

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Sobre o Dr. Gustavo Cardoso Guimarães – Urologista e Cirurgião Oncológico com mais de 20 anos de atuação e dedicação à assistência do paciente, ao ensino e à pesquisa científica nessa área, é diretor do Instituto de Urologia, Oncologia e Cirurgia Robótica (IUCR). Com ampla experiência em tecnologias e procedimentos minimamente invasivos como cirurgia laparoscópica, ultrassom focalizado de alta intensidade-HIFU e cirurgia robótica, desenvolveu o Programa de Consultoria e Capacitação sobre Cirurgia Robótica para Instituições de saúde em todo o país, que engloba a implantação, o desenvolvimento das diversas técnicas cirúrgicas e a capacitação das equipes.